terça-feira, 27 de dezembro de 2011

LOURENÇO JOÃO CORDIOLI, UMA LEGENDA DO XADREZ BRASILEIRO





Lourenço Cordioli está com 88 anos, é catarinense mas reside em São Paulo, continua em plena atividade profissional como advogado. É atualmente o vice-presidente do Clube de Xadrez São Paulo.

Ainda participa de torneios pelo Brasil. Um jogador muito forte, apesar de sua idade, provando que não há limites para quem pratica esporte, e principalmente a nossa nobre arte. É o jogador mais antigo em atividade no Brasil.

É detentor de vários títulos. Foi campeão paulista consecutivamente nos anos de 47,48,49, feito inédito até hoje jamais alcançado.
Depois de não jogar durante 20 anos,foi vice-campeão paulista em 55 e 67.  Em 1997 conquistou o brasileiro de veteranos que aconteceu em Itaperubá, Santa Catarina, o que resultou em sua participação no mundial de veteranos realizado em Badwildenbad, na Alemanha.
No dia 11 de Dezembro de 2004, esteve em Petrolina -PE ,participando do 2ºTorneio do Sertão, onde foi homenageado,  cujo Troféu para o Campeão levou o seu nome. Obteve 6/7, e ficou em 1ºLugar.
Tivemos o prazer de conhece-lo pessoalmente onde nos concedeu uma entrevista.       

1-Na sua opinião o que é Xadrez?

É um esporte e uma ciência com princípios e leis. É uma escola de vida. Ensina o que o homem precisa saber para vencer. Aproveitar o tempo, as oportunidades e, sempre, antes de agir, indagar por que e para que? Indagar quais objetivos do adversário e suspeitar sempre das aparências e das ofertas de vantagens. É também um instrumento de afirmação. O bom enxadrista assume a responsabilidade pela boa ou má condução da partida. É um meio de aferição do acerto ou equivoco das decisões que toma. Habitua o praticante a se controlar diante de emoções mais intensas, a raciocinar. Amadurece o intelecto.
É também um excelente passatempo, é um deleite da inteligência, é um mundo à parte. Só jogando para saber.

2- O que acha do Xadrez Escolar?
Aumenta a capacidade de concentração, contribuindo para a melhora do aproveitamento do aluno em todas as outras disciplinas. É claro que não se pode forçar a jogar àqueles que não querem, mas ao menos a movimentação das peças todos deveriam conhecer.
O xadrez escolar se tornou uma das ferramentas para afastar o jovem das drogas.

3- Fale de sua trajetória enxadrística?

Sem grandes feitos. Campeão Paulista em 47, 48 e 49 e vice em 58 e 67. Joguei três campeonatos brasileiros 48, 49 e 52. As melhores recordações foram as vitórias que obtive e me emocionaram em especial contra os mestres Sousa Mendes e Eugénio German e contra Flavio de Carvalho Jr. no torneio Internacional de São Paulo de 1948.

4- O que o senhor acha do nível técnico do Xadrez Brasileiro atualmente?
Excelente.

5- Qual o melhor jogador em todos os tempos no Brasil e no Mundo ? Quem o Senhor destacaria no momento em nível de Brasil e de Mundo?

O melhor de todos os tempos no Mundo foi Capablanca, o rei do tabuleiro, o Pelé do xadrez, o mais completo. O mais forte, no entanto, foi sem dúvida o Fisher, o mais posicional Petrossian e o melhor tático, o Thal. No Brasil, Henrique da Costa Mecking. No momento, o Kasparov no mundo e, no Brasil, Milos e Suniê.

6-Será que um dia surgirá no Brasil um Campeão Mundial Absoluto?

Já surgiu. O Mecking tinha a força de um Campeão Mundial.

7- Fale de Dona Ewalda Cordioli, sua eterna amada e campeã.  É verdade que os primeiros passos do namoro tinha uma ponte chamada “XADREZ”?
É verdade. Foi no Campeonato Inter-clubes de 1941, no primeiro olhar bateu-se a chapa. Jogo fechado. Quem está de fora não entra e quem está dentro certamente não sai. Foi uma paixão que nem a morte conseguiu matar. Duas almas que já se conheciam e se amaram de outras galáxias.

8- Fale de alguns casos pitorescos ocorridos durante a sua vida enxadrística.

Eu era proprietário de um bar em São Paulo, na década de 40.  A polícia fez uma abordagem a dois amigos que estavam jogando com o meu tabuleiro, no interior do bar levando o meu estimado tabuleiro.  Indo ate a delegacia recuperar o mesmo me desentendi com o Delegado, ficando preso por 4 horas e solto logo após o pagamento de fiança. Ao sair o delegado me mostrou um inscrito no qual dizia que o xadrez dentre outros jogos era considerado  uma contravenção, sendo portanto ilegal. Depois voltei a delegacia e recuperei o tabuleiro, mas com o aval de um grande amigo de patente superior pertencente ao  exército.     

9- Como o Senhor consegue  conciliar a vida profissional e a participação em torneios?

Trabalhando de dia e jogando à noite, com prioridade para a profissão. Dormindo quando dá.

10 – Passe para nós, a receita de tanto vigor físico e mental.
Coisas de Deus, mas nem tanto assim.

11 - Qual o conselho que o senhor daria para aqueles que estão iniciando
no xadrez?

Que procurem conciliar o xadrez com os estudos e o trabalho, com prioridade para estudos e trabalho.

12 – O Senhor tem algum,  um agradecimento a fazer ao “Xadrez”?

Sim. Agradeço ao Xadrez por ter me tirado de uma desgraça chamada “carteado”. A partir do momento que vislumbrei o xadrez fui curado desta febre.

ENTREVISTADOR: EMIDIO JOSÉ ALVES DE SANTANA PROFESSOR DE XADREZ

OBSERVAÇÃO: REEDIÇÃO DA ENTREVISTA CONCEDIDA, PARA O CLUBE DE XADREZ EM DEZEMBRO DE 2004.
http://www.clubedexadrezonline.com.br/artigo.asp?doc=808
SEU LOURENÇO CORDIOLI ESTÁ HOJE COM 94 ANOS E CONTINUA FIRME NOS TABULEIROS.
CONFIRAM DOIS VÍDEOS DO YOU TUBE DE 2010.
http://www.youtube.com/watch?v=Ghcw8G0bNsg
http://www.youtube.com/watch?v=Mbvn2q2reiQ&feature=related

Nenhum comentário:

Postar um comentário